domingo, 29 de abril de 2012

Cultivar ritmos, colher saúde

Por Dra. Zélia Beatriz Ligório Fonseca

A autonomia mental do ser humano moderno, fez com que ele se afastasse dos ritmos saudáveis seguidos na natureza. Em conseqüência, após anos de agressão ao seu mais íntimo mecanismo de regeneração, equilíbrio e preservação, todo o sistema entra em colapso e surgem um grande número de enfermidades, fraqueza e desânimo. Se, no entanto, seguirmos conscientemente os ritmos mais importantes, podemos gerar em nosso organismo a capacidade de adaptar-se e agüentar de forma menos danosa as exigências do mundo atual.

“O ritmo repete processos semelhantes em situações análogas comparáveis.”

Tomemos a respiração como exemplo, se cronometrarmos, nenhum movimento respiratório será idêntico ao anterior em profundidade e duração. Mas não podemos negar a semelhança entre eles. Nesse processo, extremos como movimento e repouso são compensados ritmicamente. Ritmos compensam polaridades.


Os ritmos são a base de qualquer processo de adaptação. Como uma repetição rítmica nunca se iguala à primeira ação, mas representa uma “folga sutil” em torno de um valor médio, temos que os processos rítmicos se caracterizam por uma adaptabilidade flexível. Se olharmos um compasso musical, temos neste uma rigidez e inflexibilidade, sem capacidade de compensação.

Tudo que ocorre com ritmo e periodicidade tem um gasto de energia menor e promove formação de hábitos (veja o exemplo dos jovens que estudam diariamente e aqueles que só estudam na véspera das provas).

Habituar-se a seguir horários para as refeições, para dormir, para trabalhar e descansar ordenados de maneira rítmica faz o indivíduo ter condições de suportar os compromissos da dura vida cotidiana.
Não ter ritmo, seguir as situações externas e guiar-se apenas pelo momento levará qualquer um ao esgotamento, faltará flexibilidade para a adaptação e a força necessária para perseverar.

Qualquer repetição feita conscientemente fortalece a vontade e aquele que tem a vontade forte tem mais chances de um bom desempenho. Pensem nisso quando olharem para os bebês e deixem que eles se esforcem sozinhos para aprender a virar, a sentar, a ficar de pé e a andar. Nada de colocá-los sentados antes dos 6 meses de vida, ou colocá-los num andador que deixa seus músculos fracos por falta do engatinhar e do acocorar-se antes de andar.

O ritmo diário
O homem apresenta vários ritmos diários intrínsecos (circadiano de 24 horas) como o ritmo da curva de temperatura (pela manhã 0,5°C mais baixa que à noite), a oscilação diária do nível de glicose no sangue, também os hormônios. A falta de ritmos externos pode alterar consideravelmente esses processos gerando stress e doenças. Mas se seguirmos da maneira mais regular possível a alternância entre períodos de alimentação e pausa alimentar, atividade e sono, trabalho e descanso, deixamos nosso dia ritmado e saudável.

Quando queremos deixar bem marcado o ritmo noite-dia nas crianças, o melhor é que o se levantar e se  deitar ocorram sempre à mesma hora e acompanhados por um cuidado especial como uma canção de bom dia, ou um bom dia ao céu e às nuvens (ou à chuva). Para dormir uma canção de boa noite, um verso ou uma pequena oração. A perseverança do adulto fará com que a criança, no decorrer de semanas ou meses, vivencie com maior nitidez a diferença entre dia e noite.

O ritmo semanal
Culturas antigas dedicavam cada dia da semana a um planeta, que por sua vez imprimia àquele dia suas forças arquetípicas. Ainda hoje, muitas línguas preservam esse passado. Cada dia da semana tinha também seu cereal.

Podemos criar um ritmo com qualidades atribuídas a esses planetas ou preparar pratos com o cereal do dia.
Por exemplo, Polenta, angu ou broa no sábado. Macarrão (trigo) no domingo, etc.

Rudolf Steiner descreveu de forma apropriada para o homem da atualidade a “Senda das oito sabedorias” do Buda. Para cada dia da semana há uma tarefa especial a ser exercitada. No sábado o cuidado especial da vida de representações, no domingo a tarefa do juízo correto, na segunda-feira o cuidado consciente com a conversa e como lidar com a palavra, na terça-feira a atenção na maneira de agir (agir corretamente), na quarta-feira o encontro do ponto de vista correto na vida, na quinta-feira a avaliação correta das capacidades de força e de trabalho próprias, finalmente na sexta-feira a aspiração a aprender o máximo da vida. (Ver ”O evangelho segundo Lucas: considerações esotéricas sobre suas relações com o budismo” - R. Steiner, Ed. Antroposófica).

O ritmo mensal
Toda pessoa que já passou por alguma doença um pouco mais grave que um resfriado, vivenciou a fraqueza e a diminuição de suas capacidades por no mínimo um mês. Uma depressão, uma pneumonia, uma fratura levam o paciente a diminuir ou parar suas atividades, de trinta dias a cento e vinte dias. O ritmo mensal caracteriza-se como o ritmo da recuperação mais profunda, da formação de hábitos e da estabilização. Na pedagogia Waldorf usa-se desse conhecimento ministrando o ensino em épocas de quatro semanas.

Podemos fortalecer nossa vontade e aprimorar nossa saúde mudando hábitos alimentares por períodos de um mês. Por exemplo, não comer carne e condimentados por um mês. Num outro período se abster de ingerir qualquer produto açucarado (doces e bebidas). Os meses também têm relação com as qualidades do zodíaco, podemos meditar sobre essas características e contar estórias de fadas sobre o tema para as crianças pequenas. (Ver “As forças zodiacais e sua atuação na alma humana” - Gudrun Burkhard, Ed. Antroposófica).

O ritmo anual
Os ritmos anuais são bem sentidos na natureza. O ciclo anual das águas (meses de chuva mais constante), o período de estiagem e seca (piorando a cada ano), verão e inverno.

A Drª. Michaela Glocker, no seu livro “Consultório Pediátrico”, diz que quando uma pessoa fica por mais de um ano no mesmo lugar, ou seja, quando experimenta uma mesma estação pela segunda vez, então ela se sente em ‘casa’. Permanecendo mais de sete anos, instala-se na pessoa, um sentimento pátrio. Seria então condizente com uma boa tradição lembrar-se de eventos históricos sob a forma de datas comemorativas.

As festas do ano são uma oportunidade de trabalhar com conteúdo de profunda meditação e desenvolvimento interno. As crianças devem receber esse conteúdo na forma de imagens, pois ainda não tem maturidade para ‘digerir’ essas informações de forma consciente.

Podemos verificar que crianças de famílias que cultivam adequadamente as festas anuais, parecem desenvolver-se com mais harmonia e confiança perante o mundo, se comparadas com crianças cujas famílias seguem tradições sem qualquer convicção interior ou simples nem seguem as comemorações.

É importante que os adultos se esforcem para conter internamente o verdadeiro significado da festa e não sejam meros organizadores. Essa postura faz toda a diferença no próprio espírito da festa.

Fonte Consultada:
GOEBEL, W. e GLOCKLER, M. Consultório Pediátrico. Editora Antroposófica. São Paulo, 2002.

Artigo extraído em: http://alumiar.com/educacao/39-antroposofia/683-cultivarritmoscolhersaude.html



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