terça-feira, 26 de março de 2013

Páscoa

   
Todos os anos, na época do outono, num jardim Waldorf, as crianças começam a se preparar para vivenciar intensamente a primeira das quatro festas anuais, a Páscoa. Elas cantam lindas músicas para o coelhinho da Páscoa; ouvem atentamente histórias sobre a lagarta e a borboleta; pintam ovos com muitas cores; preparam, com a professora, deliciosas roscas e pães. Todos esperam ansiosamente o domingo de Páscoa, quando sairão em busca dos ovinhos de chocolate escondidos pelos cantos da casa e do jardim. Nós, adultos, acompanhamos a alegria das crianças e inevitavelmente nos transportamos para as nossas próprias recordações de infância.

A Páscoa é uma festa repleta de imagens fortes e marcantes. Porém será que temos consciência do que há por trás destes símbolos? Será que sabemos nos preparar internamente para este momento tão importante?

Na tradição cristã, após os quarenta dias da quaresma e depois de refletir sobre os acontecimentos vivenciados por Jesus Cristo durante a Semana Santa (domingo de ramos, condenação da figueira, encontro com adversários no templo, unção, santa ceia, morte, descida ao reino dos mortos e ressurreição), os cristãos comemoram, no domingo de Páscoa, a glória da ressurreição de Cristo. Com sua paixão, morte e ressurreição, Cristo deixou-nos o precioso legado de uma nova vida após a morte, e quando seu corpo e sangue penetraram no mundo das profundezas, seu espírito possibilitou que a Terra, como um todo, se tornasse um novo centro de luz.

Dentro da pedagogia Waldorf, as crianças entram em contato com o sentido espiritual da Páscoa através de imagens transmitidas em histórias.

Por isso, durante a preparação das crianças para essa época, os educadores (pais e professores) devem ter claro dentro de si a possibilidade da vida, morte e ressurreição em hábitos, atitudes e modos de pensar. Se tivermos consciência da necessidade de cada um realizar este exercício interior, poderemos preparar coerentemente nossas crianças para a época da Páscoa e apresentar a elas símbolos repletos de significados. Só assim estaremos resgatando o real sentido da Páscoa.
 
O significado da Páscoa

A Páscoa não é uma festa totalmente terrestre. Ela depende de acontecimentos cósmicos. É comemorada no primeiro domingo após a primeira lua cheia que ocorrer depois do equinócio de outono, marcado pelo ingresso do Sol em Áries. Por isso não tem uma data fixa.

A Páscoa é sempre comemorada no domingo, mostrando uma relação com o Sol, astro que rege esse dia da semana. Também tem relação com a Lua cheia. Lembremos que a Lua não tem luz própria, refletindo a luz que recebe do Sol.

Então, a Páscoa nos remete diretamente à elevada entidade espiritual do Cristo. Intimamente ligada a forças solares, às forças da vida. Cristo venceu até mesmo a morte do corpo físico. Essa é uma imagem que podemos tomar como exemplo para nós e seguir um caminho de salvação da “alma”. A meu ver, esse caminho é da tentativa constante de compreensão do Mistério do Gólgota e da Ressurreição do Cristo, que nos leva a um encontro interior com este elevado ser. Isso não significa, necessariamente, seguir uma religião institucionalizada. Para mim, significa seguir um caminho religioso (religare) que nos leva para dentro de nós mesmos, interiorizado, através da persistência, dos estudos espirituais e da meditação.

A Páscoa nos aproxima, pela consciência, da morte e da ressurreição. Sugere uma assimilação na alma das forças de ressurreição de Cristo, forças de vida que vencem a morte.

Talvez seja um momento até de estarmos em transformação, pois, transformação implica na morte de algo velho para que o novo possa surgir. E um novo baseado em ideais que muitas vezes deixamos “adormecidos”.
 
Helena Maria de Jesus

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